quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sonho

Queria poder ser assim:

"Vou fumar o meu cigarrinho
e esperar que você ou eu cansemos;
e se vc cansar primeiro,
você fala,
e se eu cansar primeiro,
durmo outra vez... "


Caio F. Abreu

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Perdas e Recomeços

Uma rapidinha:
Refleti durante o dia de hoje sobre o que escrevi ontem, e realmente expor algo assim para as pessoas num canal aberto de comunicação é algo sempre complicado, principalmente por causa das inúmeras interpretações a respeito do tema.

Pensei em explicar o motivo pela qual este texto do Caio Fernando Abreu me atraiu tanto assim. No entanto, como diria a sabedoria popular, "piada boa não precisa explicar". 

Sem entrar muito no mérito desta questão, este post "rapidinho" é para evidenciar como um mesmo sentimento pode ser demonstrado de muitas formas.
O que principalmente me atraiu neste texto foram os dois processos muito evidentes: a perda e o recomeço.

"Perdas e recomeços" também me remete a um poema do Vinícius de Moraes, musicado pelo Tom Jobim. Na verdade, reza a lenda que a letra é da Dolores Duran, feita em cima de uma melodia que o "Tom" estava compondo e que tinha dado para o Vinicius letrar. No entanto, conforme as próprias palavras da Dolores, ela vira para ele e diz: "Vinicius, outra letra é covardia". E ele descarta o poema que compusera e a letra da Dolores foi a que ficou para a melodia.

Eu diria, no meu mais humilde conhecimento sobre esta vida que nos cerca, que a letra dessa música diz a mesma coisa que o texto anterior. As figuras que a linguagem do texto constrói na minha cabeça, enquanto ouço a música, é muito semelhante ao cenário do texto do Caio Fernando de Abreu. 

Bom, pelo menos isso é o que eu acho... =)

Em suma,
um mesmo sentimento pode ser demonstrado de muitas formas ontem eu escrevi com drama e hoje eu escrevo com amor.
E os duas coisas falam exatamente sobre as mesmas coisas...


"Ah, você está vendo só
Do jeito que eu fiquei e que tudo ficou
Uma tristeza tão grande
Nas coisas mais simples que você tocou
A nossa casa, querido
Já estava acostumada aguardando você
As flores na janela
Sorriam, cantavam por causa de você

Olhe, meu bem
Nunca mais nos deixe, por favor
Somos a vida, o sonho
Nós somos o amor

Entre, meu bem, por favor
Não deixe o mundo mau
Lhe levar outra vez
Me abrace simplesmente
Não fale, não lembre
Não chore, meu bem"


Hoje eu ficarei devendo fotos. E no próximo post, apenas Memórias de um Fotógrafo Desconhecido serão publicadas. 

E de preferências as memórias boas!
Abs

terça-feira, 30 de agosto de 2011

"Quando Ana me deixou..."

Olá...

Primeiramente, boa noite.
Hoje eu começo a escrever de maneira polida porque faz tanto tempo que não publico neste blog que já me tornei um estranho para mim mesmo.
Confesso ter feito algumas tentativas, um certo esforço para compor algo, mas por diversas vezes me faltou texto e, principalmente, conteúdo. Por este motivo, hoje eles são apenas rascunhos.

Quando isso acontece, eu faço questão de acreditar que tais palavras não vieram do coração ou não foram demasiadamente sinceras, e, por este motivo, o conjunto da obra não fica bom. Talvez esta seja a razão por ter me afastado durante estes... 11 meses. Nossa! Não pensei que fosse tanto tempo assim (inclusive, tive que conferir no blog a data do último post).

Bom, tal ausência não significa que neste último ano não aconteceram muitas coisas. Muito pelo contrário, aconteceram coisas até demais. E de alto impacto, para os rumos que a minha vida assumiu - até sair de casa, eu saí!
Inclusive, "coisas" aconteceram também no campo da fotografia. Infelizmente, de lá para cá não foram muitos casamentos fotografados. Inclusive, cada vez mais eu fotografo
menos casórios - o que me faz fugir do escopo inicial deste blog. Mas muita coisa boa aconteceu também, incluindo o mais recente fato d'eu ter atualizado todo o meu equipamento fotográfico!
Tudo bem, ainda não comprei minha D700, mas eu chego lá... =)

Enfim, é isso.
Após esta pequena introdução, vamos ao objetivo principal deste post.
Hoje, sem um tema muito específico e com poucas fotos, eu quero escrever apenas uma dedicatória; uma dedicatória a todos os últimos acontecimentos da minha vida. Numa forma (muito!) dramática, por sinal, mas
fica meu pedido para não tentarem entender ou interpretar muito o que aconteceu; entendam, apenas, que "as Anas da minha vida me deixaram"...

... e, exatamente por isso, eu também dedico este post a todas as Anas do mundo! Às Anas, Aninhas*, Anas Marias, Marianas, Joanas, Claudianas... Enfim, a todas elas porque é justamente aqui que começa e termina este post: com um texto do Caio Fernando Abreu chamado "Sem Ana, Blues".


p.s.: aviso aos desavisados: este texto não é um texto de amor.







"Sem Ana, Blues – Caio Fernando Abreu

QUANDO Ana me deixou - essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos - e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou... - e essa não-continuação era a única espécie de não continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo - esse espaço branco sem Ana - de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela.
Quando Ana me deixou, eu fiquei muito tempo parado na sala do apartamento, cerca de oito horas da noite, com o bilhete dela nas mãos. No horário de verão, pela janela aberta da sala, à luz das oito horas da noite podiam-se ainda ver uns restos dourados e vermelho deixados pelo sol atrás dos edifícios, nos lados de Pinheiros. Eu fiquei muito tempo parado no meio da sala do apartamento, o último bilhete de Ana nas mãos, olhando pela janela os dourados e o vermelho do céu. E lembro que pensei "agora o telefone vai tocar", e o telefone não tocou; e depois de algum tempo em que o telefone não tocou (se tocasse podia ser Lucinha da agência ou Paulo do cineclube ou Nelson de Paris ou minha mãe do Sul, convidando para jantar, para cheirar pó, para ver Nastassia Kinski nua, perguntando que tempo fazia ou qualquer coisa assim), então pensei: "agora a campainha vai tocar". Podia ser o porteiro entregando alguma dessas criancinhas meio monstros de edifício, que adoram apertar as campainhas alheias, depois sair correndo. Ou simples engano, podia ser. Mas a campainha também não tocou, e eu continuei por muito tempo sem salvação parado ali no centro da sala que começava a ficar azulada pela noite, feito o interior de um aquário, o bilhete de Ana nas mãos, sem fazer absolutamente nada além de respirar.

Depois que Ana me deixou - não naquele momento exato em que estou ali parado, porque aquele momento exato é o momento-quando, não o momento-depois, e no momento-quando não acontece nada dentro dele, somente a ausência da Ana, igual a uma bolha de sabão redonda, luminosa, suspensa no ar, bem no centro da sala do apartamento, e dentro dessa bolha é que estou parado também, suspenso também, mas não luminoso, ao contrário, opaco, fosco, sem brilho e ainda vestido com um dos ternos que uso para trabalhar, apenas o nó da gravata levemente afrouxado, porque é começo de verão e o suor que escorre pelo meu corpo começa a molhar as mãos e
a dissolver a tinta das letras no bilhete de Ana - depois que Ana me deixou, como ia dizendo, dei para beber, como é de praxe.
De todos aqueles dias seguintes, só guardei três gostos na boca - de vodca, de lágrima e de café. O de vodca, sem água nem limão ou suco de laranja, vodca pura, transparente, meio viscosa, durante as noites em que chegava em casa e, sem Ana, sentava no sofá para beber no último copo de cristal que sobrara de uma briga. O gosto de lágrimas chegava nas madrugadas, quando conseguia me arrastar da sala para o quarto e me jogava na cama grande, sem Ana, cujos lençóis não troquei durante muito tempo porque ainda guardavam o cheiro dela, e então me batia e gemia arranhando as paredes com as unhas, abraçava os travesseiros como se fossem o corpo dela, e chorava e chorava e chorava até dormir sonos de pedra sem sonhos. O gosto de café sem açúcar acompanhava manhãs de ressaca e tardes na agência, entre textos de publicidade e sustos a cada vez que o telefone tocava. Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Porém, é claro, isso nunca aconteceu.

O que começou a acontecer, no meio daquele ciclo do gosto de vodca, lágrima e café, foi mesmo o gosto de vômito na minha boca. Porque no meio daquele momento entre a vodca e a lágrima, em que me arrastava da sala para o quarto, acontecia às vezes de o pequeno corredor do apartamento parecer enorme como o de um transatlântico em plena tempestade. Entre a sala e o quarto, em plena tempestade, oscilando no interior do transatlântico, eu não conseguia evitar de parar à porta do banheiro, no pequeno corredor que parecia enorme. Eu me ajoelhava com cuidado no chão, me abraçava na privada de louça amarela com muito cuidado, com tanto cuidado como se abraçasse o corpo ainda presente de Ana, guardava prudente no bolso os óculos redondos de armação vermelhinha, enfiava devagar a ponta do dedo indicador cada vez mais fundo na garganta, até que quase toda a vodca, junto com uns restos de sanduíches que comera durante o dia, porque não conseguia engolir quase mais nada, naqueles dias, e o gosto dos muitos cigarros se derramassem misturados pela boca dentro do vaso de louça amarela que não era o corpo de Ana. Vomitava e vomitava de madrugada, abandonado no meio do deserto como um santo que Deus largou em plena penitência - e só sabia perguntar por que, por que, por que, meu Deus, me abandonaste? Nunca ouvi a resposta.
Um pouco depois desses dias que não consigo recordar direito - nem como foram, nem quantos foram, porque deles só ficou aquele gosto de vômito, misturados, no final daquela fase, ao gosto das pizzas, que costumava perdir por telefone, principalmente nos fins-de-semana, e que amanheciam abandonadas na mesa da sala aos sábados, domingos e segundas, entre cinzeiros cheios e guardanapos onde eu não conseguia decifrar as frases que escrevera na noite anterior, e provavelmente diziam banalidades, como volta-para-mim-Ana ou eu-não-consigo-viver-sem-você, palavras meio derretidas pelas manchas do vinho, pela gordura das pizzas -, depois daqueles dias começou o tempo em que eu queria matar Ana dentro de tudo aquilo que era eu, e que incluía aquela cama, aquele quarto, aquela sala, aquela mesa, aquele apartamento, aquela vida que tinha se tornado a minha depois que Ana me deixou.

Mandei para a lavanderia os lençóis verde-clarinhos que ainda guardavam o cheiro de Ana - e seria cruel demais para mim lembrar agora que cheiro era esse, aquele, bem na curva onde o pescoço se transforma em ombro, um lugar onde o cheiro de nenhuma pessoa é igual ao cheiro de outra pessoa -, mudei os móveis de lugar, comprei um Kutka e um Gregório, um forno microondas, fitas de vídeo, duas dúzias de copos de cristal, e comecei a trazer outras mulheres para casa. Mulheres que não eram Ana, mulheres que jamais poderiam ser Ana, mulheres que não tinham nem teriam nada a ver com Ana. Se Ana tinha os seios pequenos e duros, eu as escolhia pelos seios grandes e moles, se Ana tinha os cabelos quase louros, eu as trazia de cabelos pretos, se Ana tivesse a voz rouca eu a selecionava pelas vozes estridentes que gemiam coisas vulgares quando estávamos trepando, bem diversas das que Ana dizia ou não dizia, ela nunca dizia nada além de " - Amor-amor" ou " - Meu-menino-querido", passando dos dedos da mão direita na minha nuca e os dedos da mão esquerda pelas minhas costas. Vieram Gina, a das calcinhas pretas, e Lilian, a dos olhos verdes frios, e Beth, das coxas grossas e pés gelados, e Marilene, que fumava demais e tinha um filho, e Mariko, a nissei que queria ser loura, e também Marta, Luiza, Creuza, Júlia, Débora, Vivian, Paula, Teresa, Luciana, Solange, Maristela, Adriana, Vera, Silvia, Neusa, Denise, Karina, Cristina, Marcia, Nadir, Aline e mais de 15 Marias, e uma por uma das garotas ousadas da Rua Augusta, com suas botinhas brancas e minissaia de couro, e destas moças que anunciam especialidades nos jornais. Eu acho que já vim aqui uma vez, alguma dizia, e eu falava não lembro, pode ser, esperando que tirasse a roupa enquanto eu bebia um pouco mais para depois tentar entrar nela, mas meu pau quase nunca obedecia, então eu afundava a cabeça nos seus peitos e choramingava babando sabe...
Depois que Ana me deixou eu nunca mais... E mesmo quando meu pau finalmente endurecia, depois que eu conseguia gozar seco ardido dentro dela, me enxugar com alguma toalha e expulsá-la com um cheque cinco estrelas, sem cruzar... Então eu me jogava de bruços na cama e pedia perdão à Ana por traí-la assim, com aquelas vagabundas. Trair Ana, que me abandonara, doía mais que ela ter me abandonado, sem se importar que eu naufragasse toda noite no enorme corredor de transatlântico daquele apartamento em plena tempestade, sem salva-vidas.


Depois que Ana me deixou, muitos meses depois, veio o ciclo das anunciações, do I Ching, dos búzios, cartas de Tarot, pêndulos, vidências, números e axés " - Ela volta", garantiam, mas ela não voltava - e veio então o ciclo das terapias de grupo, dos psicodramas, dos sonhos junguianos, workshops transacionais, e veio ainda o ciclo da humildade, com promessas à Santo Antônio, velas de sete dias, novenas de Santa Rita, donativos para as pobres criancinhas e velhinhos desamparados, e veio depois o ciclo do novo corte de cabelos, da outra armação para os óculos, guarda-roupa mais jovem, Zoomp, Mister Wonderful, musculação, alongamento, yoga, natação, tai-chi, halteres, cooper, e fui ficando tão bonito e renovado e superado e liberado e esquecido dos tempos em que Ana ainda não tinha me deixado que permiti, então, que viesse também o ciclo dos fins de semana em Búzios, Guarajá ou Monte Verde e de repente quem sabe Carla, mulher de Vicente, tão compreensiva e madura, inesperadamente, Mariana, irmã de Vicente, transponível e natural em seu fio dental metálico, por que não, afinal, o próprio Vicente, tão solícito na maneira como colocava pedras de gelo no meu escocês ou batia outra generosa carreira sobre a pedra de ágata, encostando levemente sua musculosa coxa queimada de sol e o windsurf na minha musculosa coxa também queimada de sol e windsurf. Passou-se tanto tempo depois que Ana me deixou, e eu sobrevivi, que o mundo foi se tornando ao poucos um enorme leque escancarado de mil possibilidades além de Ana. Ah esse mundo de agora, assim tão cheio de mulheres e homens lindos e sedutores interessantes e interessados em mim, que aprendi o jeito de também ser lindo, depois de todos os exercícios para esquecer Ana, e também posso ser sedutor com aquele charme todo especial de homem-quase-maduro-que-já-foi-marcado-por-um-grande-amor-perdido, embora tenha a delicadeza de jamais tocar no assunto. Porque nunca contei à ninguém de Ana. Nunca ninguém soube de Ana em minha vida. Nunca dividi Ana com ninguém. Nunca ninguém jamais soube de tudo isso ou aquilo que aconteceu quando e depois que Ana me deixou.

Por todas essas coisas, talvez, é que nestas noites de hoje, tanto tempo depois, quando chego do trabalho por volta das oito horas da noite e, no horário de verão, pela janela da sala do apartamento ainda é possível ver restos de dourados e vermelhos por trás dos edifícios de Pinheiros, enquanto recolho os inúmeros recados, convites e propostas da secretária eletrônica, sempre tenho a estranha sensação, embora tudo tenha mudado e eu esteja muito bem agora, de que este dia ainda continua o mesmo, como um relógio enguiçado preso no mesmo momento - aquele. Como se quando Ana me deixou não houvesse depois, e eu permanecesse até hoje aqui parado no meio da sala do apartamento que era o nosso, com o último bilhete dela nas mãos. A gravata levemente afrouxada no pescoço, fazia e faz tanto calor que sinto o suor escorrer pelo corpo todo, descer pelo peito, pelos braços, até chegar aos pulsos e escorregar pela palma das mãos que seguram o último bilhete de Ana, dissolvendo a tinta das letras com que ela compôs palavras que se apagam aos poucos, lavadas pelo suor, mas que não consigo esquecer, por mais que o tempo passe e eu, de qualquer jeito e sem Ana, vá em frente. Palavras que dizem coisas duras, secas, simples, arrevogáveis. Que Ana me deixou, que não vai voltar nunca, que é inútil tentar encontrá-la, e finalmente, por mais que eu me debata, que isso é para sempre. Para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário, e desapareça sem deixar marcas. "


Uma boa noite, de um fotógrafo desconhecido.

p.s.: toda felicidade foi "apenas" pura consequência.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cambuquira, MG

Tema de hoje: viagens.

Porque?
Por vários motivos; hoje eu tenho que ir trabalhar e o relógio marca 13 horas e 20 minutos; uma viagem que não deu muito certo atrapalhou toda a minha programação, me deixando com aquela sensação de "não posso fazer nada..." [sensação esta, que eu odeio]; fiquei sabendo de outra viagem que não pude fazer por causa de trabalho; faz tempo que realmente estou precisando sair do caos desta vida urbana.
Enfim, tudo isso aí ocorreu em menos que 12 horas.

O que eu poderia fazer, então?
Fotografar seria uma saída, conforme já colocado no
post "Demônios". Já que não posso sair para fotografar - pois já são 13 horas e 25 minutos, e eu tenho que trabalhar às 19h, então aproveitarei esta tarde fétida para falar de viagens - sim, hoje eu não vou mais trabalhar em casa conforme tinha me programado: eu não tomo alprazolam, não faço terapia, então resolvi escrever no blog sobre fotografia (para fazer o tempo voar).

Aí, neste meio tempo, futuquei minhas fotos e achei uma viagem que fiz na virada deste ano para Cambuquira, MG. Passei o reveillon lá, coisa que não fazia há séculos. 
Até que, um belo dia, enjoei.
Então, um belo dia, me envolvi com a fotografia e passei a ver a cidade de uma maneira diferente. Na verdade, fazendo um trocadilho, por um ângulo diferente. =)

Esta pequena introdução foi para passar a idéia de como foi gostoso voltar lá e registrar todos aqueles locais da minha infância. Passei por poucas e boas lá - dos primeiros porres, passando pelas brincadeiras e pelos amigos, às poucas conquistas amorosas juvenis - e tenho um carinho muito grande por esta cidade.
É sério, as histórias foram tantas que tem até cenas hilárias guardadas no fundo do meu hipocampo, como meu pai indo me buscar de pijama na rua mais badalada da cidade. Meu primo que o diga... rs.

Então, seguem algumas fotos da bucólica cidade Cambuquira.


Ah! Quantas vezes eu já não vi esta cena, a subida da rua da Igreja...


... e aqui embaixo a "Rua Direita", a rua mais movimentada da cidade.
Aqui, nós estamos no centro de CBQ.



Olhando esta foto abaixo, eu penso muito na minha vida.
Principalmente no que o futuro ainda guarda para mim.

É muito estranho o "querer" das pessoas; até onde devemos continuar querendo? Quando que poderemos "parar na vida"?
Provavelmente este senhorzinho deve ter passado a sua vida inteira nesta casa. Provavelmente alguém deve ter ficado ao lado dele durante a sua vida inteira, e tudo o que ele teve foi sua família, seus filhos, o filhos dos seus filhos... e, no meio de um deltaT qualquer da vida, ele simplesmente gasta seu tempo sentado na varandinha de seu casa, vendo as pessoas e a vida passar...
Ou, de repente, nada disso que eu disse deve ser verdade!
E eu estou aqui filosofando apenas pelo fato d'eu estar triste, pensando na minha vida e no que o tem guardado para ela - e que eu ainda não sei...
Será que já está bom?
Até quando devo continuar seguindo, procurando, apanhando e levantando de novo... ?!?"
Bom, deixa pra lá. Tudo isso é apenas mais uma vã filosofia minha mesmo...



**** ** ****

Poder me dedicar à fotografia é poder me preocupar com a estética, as vezes.

Logo, preocupando-se com a estética, a intenção gira sempre em torno de "fazer as coisas bonitas". Logo, creio eu (na minha humilde opinião...), que o foco, neste contexto, vira arte.
Então resolvi dar margem ao meu olhar e o resultado foram essas fotos "normalzinhas" aqui embaixo.

No final desta série, eu encontrei um sorriso de apoio deste pequenino - embora o que me chamou atenção foi a pose desta figurinha para a foto.
Bom, não deve ser todo dia que o povo de CBQ se depara com um maluco de chapéu e câmera na mão, perambulando pela cidade.


- É, flores! não sabes o poder que tens... =/





- Mais uma foto que me leva diretamente para a minha adolescência.
Isso porque este pequeno cão me lebra o Halley, o cocker spaniel de uma amiga minha. Nossa, eu brincava muito com ele! Era muito bom...

Novamente insisto naquela questão: até onde continuar? Será que as pessoas param para pensar nisso?
Olhando para uma foto dessa eu penso que não existe nada mais humano do que sentar num banco da praça, embaixo de uma árvore para curtir a sombra de um sol de meio dia, e ficar de prosa, contando os "causos" dessa vida.
Tá, eu sei: lógico que existe várias outras coisas mais humanas do que isso. Ainda é apenas filosofia...



E, falando em imagens e sentimentalismo, eu não tenho medo em dizer que este é o limão mais bonito que ja vi e fotografei em toda minha vida, rs...

Este post foi mais num tom informativo.
Confesso que estou triste, cheio de coisas para falar, escrever, raciocinar, indagar... mas quando sentei aqui apenas fiz o que tinha que fazer: encerrar este post.
Para mim foi ótimo, pois ficou num tom de lembrança, fazendo jus a um blog de memórias. Memórias de um, atualmente, triste desconhecido. E dramatico também, rs.

Só sei que ainda ficou muito foto de fora, principalmente porque ainda não terminei de revelá-las. Mas, de antemão, já posso garantir que virá um tópico "Cambuquira II, a missão", pois nesta viagem eu fiz um dos meus registros mais marcantes: a da folia de reis, ainda muito tradicional nas cidades do interior de MG, pelo menos.

Bom, é isso.


[ ]'s

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Paquetá



"Ah, se eu aguento ouvir
Outro não,
quem sabe um talvez
Ou um sim,
Eu mereço enfim... "

É, Paquetá.
Seja pela letra do Amarante ou pelo cenário descrito nos textos de Joaquim Manuel de Macedo, autor de A Moreninha (o primeiro romance do Romantismo Brasileiro!), eu só sei que tenho uma relação muito peculiar com esta ilha. E isso veio depois de velho!
Atualmente, sempre que possível, arrumo uma desculpa para visitar esta ilha; com o advento da fotografia em minha vida, confesso que ficou mais fácil. No entanto, o que passou a ser difícil foi conseguir companhia(s) para visitá-la. Enfim, nem tudo é perfeito.

Se o meu hipocampo não falhar, o primeiro (re)contato que tive com Paquetá ocorreu em 2007, na época que eu ainda estudava cavaquinho/choro, na Escola Portátil. Foi neste ano que nasceu um projeto chamado O que é que a Baía tem? / Chorinho na Barca, onde a proposta era um grupo tocando choro na barca de ida das 10:30, parando para o almoço quando chegava em Paquetá e depois continuando num centro cultural que lá existe, a Casa de Artes Paquetá. Eu fui no primeiro Choro na Barca que teve, que ocorreu em Agosto de 2007 e teve a grande Luciana Rabello como primeira participante deste projeto.
Foi lindo...
Vale dizer que o projeto acontece até os dias de hoje, apesar de ter sofrido algumas interrupções ao longo destes anos.

**

Enquanto eu observava aquele momento mágico e histórico, que foi o primeiro Choro na Barca correr bem em frente aos meus olhos, tudo que eu queria ter era uma câmera nas mãos. Reflexos de fotógrafo ainda no meu subconsciente. Dois, três anos depois, a cena se repetiu e eu estava preparado, com a D60 ao meu lado; melhor, no meu ombro. E o resultado inicial foi esse daqui; confiram:

Fiquei muito feliz quando fiz esta última foto.
A composição ficou bem do jeito que eu queria, com a congruência das linhas ocorrendo no canto inferior esquerdo e uma sensação de paz - a mesma quando sentamos em frente ao mar e ficamos pensando na vida, ou não pensando em nada.
Ou seja, estávamos indo para Paquetá! Realmente não tínhamos que pensar em nada. Era apenas sentar e curtir o visual, a música, o momento - no melhor estilo carioca de se viver.

**

Conforme comentei ali em cima, sempre que penso ir a Paquetá eu gosto de convidar pessoas queridas em minha vida, pois é algo muito importante para mim. É como se eu compartilhasse algo, da minha história, não sei.

Essa minha ligação com Paquetá está intimamente relacionado com o samba.
Mais ou menos há 6 anos atrás, quando
vivia na Lapa e em contato mais próximo com a cultura brasileira e, acima de tudo, carioca, fui assistir um show no Circo Voador muito interessante. Era o grupo Dobrando a Esquina, que tinha como líder a cantora Luciane Menezes. Ela sempre buscou resgatar a cultura negra e popular, trazendo uma influência direta destes ritmos para a música do grupo. Então, o show que ela apresentara, na época, tinha muito choro, jongo, maracatu, ciranda, coco, samba de roda, e todas estas culturas populares e típicas de cada região deste Brasil.
Pra mim, aquilo era um prato cheio, pois tudo que eu buscava ouvir naquele momento da minha vida estava ali. Lembro-me bem do show porque foi a primeira vez que dancei ciranda; muito bom! Era uma terça-feira a noite e eu era a alegria em pessoa, voltando pra casa todo bobo. =)

Uma das músicas que ela apresentara, e que depois tive o prazer de ouvir no CD do grupo, que (obviamente) eu comprei, foi uma composição do Luis Claudio Ramos e Franklin da Flauta, com letra do Aldir Blanc, chamada Santo Amaro.

Eu ia a pé lá da ladeira Santo Amaro
até a rua do Catete num sobrado onde você residia
e te levava prum passeio em Paquetá
onde nasceu num pic-nic o nosso rancho
o Ameno Resedá
Verde, grená e amarelo nossas cores
Resedá, vocês são flores como flor era a Papoula do Japão
Tua rival saiu na Flor de Abacate
de destaque no enredo da Rainha de Sabá

Os lampiões, os vagalumes, você triste com ciúmes
eu charlando, resmungando que melhor era acabar
Pobre farsante de teatro ambulante
meu amor de estudante não soube representar
E o casamento
aconteceu,
vieram
filhos, muitos netos
muitas dores, muitos tetos
mas o amor a tudo isso ultrapassou
Hoje, sozinho, eu voltei feito andorinha
à Pedra da Moreninha onde tudo comecou

Olhando o mar, pensei na vida ao teu lado
como um choro do Callado, um piano em Nazareth
Saudade grande o dia inteiro, mas com jeito de alegria
do pandeiro do Gilberto no Jacob
Pra cada dó, um sol maior, um lá sereno,
a harmonia do ameno, o amor do resedá
Eu funcionário aposentado, coração não conformado
antigo e novo feito lua em Paquetá

Passou a vida com os ranchos, desfilando
União da Aliança, caprichosa em estrelas ilusões
desci por ela como desço ainda hoje
a ladeira Santo Amaro até o sobrado que o metrô matou
Bom era ir, batendo perna, tomar chope na Taberna
é outra história, é uma glória, ser da Glória
o que é que há ?
O rosto dela vela o Rio de Janeiro
como a virgem do Outeiro
guarda o Ameno Resedá

Lindo.
Ouvi esta música no show e ela ficou gravada na cabeça, principalmente por causa da parte que diz "
Pra cada dó, um sol maior, um lá sereno, a harmonia do ameno, o amor do resedá"; essa brincadeira com as notas foi o que marcou a música naquele momento. Fiquei louco para descobrir a história desta música, de quem era, etc.

A letra que o Aldir Blanc colocou neste choro (sim, Santo Amaro inicialmente era um choro do Franklin com o Luis Claudio) é algo indescrítivel, um caso a parte. A estória que ele relata, do casal que teve a história de suas vidas envoltas por choro, samba, ranchos (ah! os ranchos...), carnaval, filhos, Paquetá; ele consegui materializar o amor e a felicidade do casal dentro desta letra. Achei fantástico isso!
Pode ser um amor ideológico, um amor bucólico, mas não interessa: ainda sim, é assim que eu vejo esta música.

É impossível, para mim, ouvir Santo Amaro e não visualizar a história ali contida. Inclusive, eu acho que um casamento, um relacionamento, deveria ser como essa música. Eu tomo isso como um exemplo para mim, como algo a construir - embora
não faça a menor idéia do porque estou dizendo tudo isso. Na verdade, só estou dizendo porque não divulgo este blog e sei que ninguém vai lê-lo (eu espero! =). No fundo, ainda acho que só escrevo aqui porque estou seguindo os conselhos de uma amiga, e deixando registrado as minhas memórias, de um fotógrafo desconhecido, nem que seja para apenas eu mesmo ler.
Só para deixar registrado, o Rancho Flor do Sereno, um dos melhores "blocos" de carnaval da atualidade no Rio de Janeiro (digo "bloco" porque ele não é um bloco, e sim um rancho), também gravou a música Santo Amaro no CD deles. Uma gravação linda e impecável, na voz do Pedro Paulo Malta. Vale a pena conferir.

Enfim, uma letra que me remete a tudo isso: Rio de Janeiro antigo, Glória, Catete, samba, rancho, carnavais, Paquetá, amor, felicidade, simplicidade na vida... para mim, um exemplo a ser seguido. Acho que fiquei meio bucólico.
As fotos que colocarei abaixo é o resultado de como eu tento viver a vida: de maneira simples e feliz. E Paquetá acabou se tornando um sinônimo disso.
Por isso esta ilha é tão especial para mim.
Sem mais ressalvas, eu lhes mostro a minha visão de Paquetá:



Abaixo são as fotos do choro, acontecendo na Casa de Artes Paquetá.


A melhor parte de ter ido a Paquetá neste dia foi a presença do grupo Samba da Ouvidor - famoso por manter uma roda de samba de rua, na esquina da rua do Mercado com a Rua do Ouvidor, quinzenalmente aos sábados, a partir das 15 horas. Neste dia das fotos, eles deram uma esticada e foram relaxar em Paquetá - e a melhor forma de fazer isso é com muito samba e cerveja!
Pra mim foi ótimo: após curtir o choro, corri pro samba para fazer umas fotos lá também. Seguem elas:




Bom, é na lembrança do som de um prato e faca que eu vou indo embora.
Num próximo post prometo escrever pouco!
Inté.
 

Fotógrafo Desconhecido